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quarta-feira, 5 de dezembro de 2007

As Estradas

Permanecer parado num mesmo lugar somente faz sentido quando temos estradas que nos levem dali. Quando elas não existem, esse lugar não passa de uma prisão; quando existem, todavia, chama-se lar. São as estradas que determinam o que cada lugar nos representa: se a construção de uma vida, ou o início de uma outra.

Estradas são como artérias que conduzem sangue a diferentes órgãos, que os abastecem de oxigênio, que explicitam a dependência entre eles. Estradas nos fazem ver a nossa pequenez enquanto homens e a nossa força enquanto espécie – maiores, talvez, que a nossa própria capacidade de aceitá-las. Nos unem, nos integram, e mostram também a imensa solidão em que vivemos, todos interligados e todos tão distantes, através de estradas que construímos, mas que somos incapazes de percorrê-las por completo.

Às vezes, estradas nos levam somente a horizontes, a lugares que não vemos. Prosseguimos somente na fé de que chegaremos lá, no outro lado. E nem sempre elas nos oferecem escolhas, pois não passam de longas retas de duas pistas: ou seguimos em frente, ou voltamos. Ao lado, paisagens intransigentes que se alteram devagar, escorrendo por entre os dedos sem que possamos gravá-las em nossas memórias.

Então, ficamos entre permanecer no mesmo lugar ou ir a outro. E é quando decidimos conhecer o mundo que passamos a nos sentir deveras sós. Porque embora haja muitos lugares, a quantidade de estradas é infinitamente maior. E é quando sentimos que, apesar dos nossos esforços, não chegamos a lugar algum, que percebemos que as estradas se tornaram, enfim, nosso verdadeiro lar.

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