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sábado, 26 de abril de 2008

Poema de Vagabundo

Trecho do Poema Sujo, de Ferreira Gullar*:

"azul
era o gato
azul
era o galo
azul
o cavalo
azul
teu cu"



*Pseudônimo do poeta maranhense José Ribamar Ferreira, vencedor do Prêmio Jabuti em 2007 com a obra Resmungos, como melhor livro de ficção do ano.

sábado, 19 de abril de 2008

Vagabundos São Seres Estranhos

Vagabundos são seres estranhos. Acordam em horários diferentes em cada manhã, mas sempre com suas caras suadas, sebosas, calorentas, as cobertas amontoadas no pé da cama, as roupas amarrotadas, gostos ruins na boca, corpos doloridos. Levantam-se vagarosamente, olham para os lados com desprezo pelo dia que se inicia, e pensam no nada que vivem. É do quarto à cozinha em poucos passos, à geladeira, à água gelada que desce esôfago abaixo, limpando seus corpos e suas almas.

O rádio às vezes toca alguma música nostágica, ou algum súbito de otimismo. E sempre as mesmas músicas, como se procurassem mensagens escondidas naquelas canções, algo lhes mostrasse a nova estrada a ser seguida, o novo destino entre tantos já tentados, e pouco descobertos.

O dia passa como todos os demais, como manhãs chuvosas, como um tempo parado em sí mesmo. E outro, e outro, e outro...

Vagabundos são mesmos serem estranhos. Quando chegam as noites, de novo pensam na vida morna, simples, sem sentido em que se encontram. Pensam na falta de força que têm para alterar suas rotinas urbanas, suas caminhadas sem rumo por lugares comuns e, ao mesmo tempo, estranhos. Lugares rotineiros, dos quais não conseguem se desvincilhar. Os mesmos lugares, pessoas... e a mesma vida: lerda, vagarosa... comum.

E depois de pensarem, de cartesianamente a nada chegarem, percebem que os domingos à noite são assim mesmos: estranhos como eles, e com aquela sensação de pequenez que nos vêm nessas horas. E, então, abrem uma cerveja, e com ela vão até a janela, e esperam um telefonema de uma guria qualquer para lhes fazer companhia, com quem conversarem num fim de dia triste, ou de outros vagabundos para com quem saírem e, pelo menos por algum tempo, fingirem dar sentido às suas existências em vidas que deveras não existem, ao lado de mulheres que, deveras, nunca terão.

Mas vagabundos são seres estranhos. No outro dia, se levantarão de novo vagarosamente, olhando para os lados com desprezo pelo dia que se inicia, e pensando no nada que vivem...

sábado, 5 de abril de 2008

A uma Trash Girl...

Um brinde também, minha querida,
a ti,
e à vida!

Que nos cria coisas estranhas,
antes tão perto,
ao lado,
mas invisíveis.

E agora
tão distantes...

Um brinde à vida!

Que nos sacaneia com surpresas surreais,
que nos salva de descrenças,
que nos faz crer nela novamente,
mesmo que timidamente.

Um brinde a vocês, mulheres!

Suas filhas da mãe que nos sugam,
que nos tomam nossas forças,
quando mais as afastamos,

e nos põem no colo.
Ah, nos põem no colo...

e nos acariciam,
nos fazem ver que somos, nada mais,
que um brinquedo,

da vida.

Um brinde à vida, Vagabundos,
um brinde à vida!

Que nos reconhece como nada,
que humilha nossos orgulhos,
nossas palavras de ordem.

Que nos põe como meninos
frágeis,
carentes,
solitários,
em mãos de mulheres,
que nem conhecemos.

Ah, Vagabundos...
Um brinde à vida, um brinde à vida...

quarta-feira, 2 de abril de 2008

É PRECISO ESTAR SEMPRE BÊBADO!

Saúdo os companheiros com a chegada da poesia nesse blog... Sempre fundamental. Aqui minha primeira contribuição nessa atmosfera. "Poema da Necessidade", do Carlos Drummond de Andrade, lido por "Tom Jobim". Não reparem o logotipo da Globo no final, afinal o fato de eles terem monopolizado até a poesia não quer dizer que a poesia deixou de existir.

Esse poema poderia ser uma espécie de lema pra qualquer vagabundo. Até faço essa sugestão aos companheiros. Que tal, companheiros?



abraços