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sábado, 19 de abril de 2008

Vagabundos São Seres Estranhos

Vagabundos são seres estranhos. Acordam em horários diferentes em cada manhã, mas sempre com suas caras suadas, sebosas, calorentas, as cobertas amontoadas no pé da cama, as roupas amarrotadas, gostos ruins na boca, corpos doloridos. Levantam-se vagarosamente, olham para os lados com desprezo pelo dia que se inicia, e pensam no nada que vivem. É do quarto à cozinha em poucos passos, à geladeira, à água gelada que desce esôfago abaixo, limpando seus corpos e suas almas.

O rádio às vezes toca alguma música nostágica, ou algum súbito de otimismo. E sempre as mesmas músicas, como se procurassem mensagens escondidas naquelas canções, algo lhes mostrasse a nova estrada a ser seguida, o novo destino entre tantos já tentados, e pouco descobertos.

O dia passa como todos os demais, como manhãs chuvosas, como um tempo parado em sí mesmo. E outro, e outro, e outro...

Vagabundos são mesmos serem estranhos. Quando chegam as noites, de novo pensam na vida morna, simples, sem sentido em que se encontram. Pensam na falta de força que têm para alterar suas rotinas urbanas, suas caminhadas sem rumo por lugares comuns e, ao mesmo tempo, estranhos. Lugares rotineiros, dos quais não conseguem se desvincilhar. Os mesmos lugares, pessoas... e a mesma vida: lerda, vagarosa... comum.

E depois de pensarem, de cartesianamente a nada chegarem, percebem que os domingos à noite são assim mesmos: estranhos como eles, e com aquela sensação de pequenez que nos vêm nessas horas. E, então, abrem uma cerveja, e com ela vão até a janela, e esperam um telefonema de uma guria qualquer para lhes fazer companhia, com quem conversarem num fim de dia triste, ou de outros vagabundos para com quem saírem e, pelo menos por algum tempo, fingirem dar sentido às suas existências em vidas que deveras não existem, ao lado de mulheres que, deveras, nunca terão.

Mas vagabundos são seres estranhos. No outro dia, se levantarão de novo vagarosamente, olhando para os lados com desprezo pelo dia que se inicia, e pensando no nada que vivem...

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