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sexta-feira, 5 de outubro de 2007

SER VAGABUNDO

Vagabundos que o mundo repeliu, mas zombam e vivem
nos filmes, nas ruas tortas com tabuletas: Fábrica, Barbeiro, Polícia,
e vencem a fome, iludem a brutalidade, prolongam o amor
como um segredo dito no ouvido de um homem do povo caído na rua.
(Carlos Drummond de Andrade)

Todo vagabundo é poético. Todo vagabundo é um patético ser fechando o bar junto com o garçom. Cara enfiada no copo, admira o fundo desse copo feito criança abandonada, sem rumo, perdida, procurando uma resposta filosófica definitiva para o descaso humano. Quantos livros, músicas, poemas... tudo em vão! Afinal, tudo o que é genuíno nesta terra não é reconhecido. Por um motivo ou outro, somos fregueses da tigela diária de erro, de mercadorias; o fast food, que faz da paixão um mero comercial na novela das oito.
Ser vagabundo é mais do que uma opção preguiçosa. É uma filosofia que poucos compreendem. Jamais entenderiam o que é passar uma tarde inteira atrás de um único verso. Ou então ficar sem fazer nada, simplesmente o nada reflexivo, elogio ao ócio, contrabando de sossego. imaginar a vida em sonho, por que não? Fazer uma utopia, desfazê-la minutos depois, e depois refazê-la novamente. Alguns jamais entenderão essa deliciosa forma de enxergar a rua e o boteco. Ah, os botecos... Voltaremos sempre a eles, como um refúgio, como nossa base militar, onde está o armamento de nossa guerrilha contra a rotina e a grande ordem estabelecida. Lá que nos escondemos, que nos achamos, que nos descobrimos, que impregnamos as melhores canções na nossa mente. É lá que o mundo se resolve em uma reunião etílica em defesa da liberdade de não produzir para a máquina.
Quanto às amadas, permitam-me recorrer novamente a Drummond. Ele resumiu algumas coisas fundamentais, que dispensariam meu cansativo esforço de me expressar. Singelamente:
"mas ninguém virá aqui saber como amas
com fervor de diamante e delicadeza de alva,
como, por tua mão, a cabana se faz lua."

Sei lá, vagabundo. Somos uma espécie discriminada. Ainda exigiremos nossos direitos. Não sei de que jeito, com tantas rejeições, mas venceremos. Como diria Leminski, "Distraídos Venceremos". Sentindo o sabor do vento, sejamos mesmo poéticos, patéticos, românticos, loucos, indecisos... Sejamos o que todos têm inveja de ser, mas não conseguem pela falta de coragem!


Volmir M. G.

4 comentários:

vál disse...

...talvez seja essa a intenção perante a tristeza vendo o descaso para com o trabalho de um vagabundo...
menosprezar quem perde uma tarde tentando apenas concluir o parágrafo perfeito que lhe está na cabeça, mas nem o velho lápis preto e as folhas de papel ajudam, ele não se forma em palavras e fica ali horas tentando quase que arquitetar milimetricamente as palavras, que não vem, para escrever o parágrafo pérfeito, a farse perfeita, da sua melhor história...

Laurene disse...

Moçada, sei de um blog com esse mesmo nome, só de poesia!

Laurene disse...

Pessoal, vou postar o endereço do blog dos vababundos poetas para vcs lá no meu blog: www.emiliojunior.zip.net
Abraços

Ju Bueno disse...

" contrabando de sossego" adorei...
Talvez seja graças a muitos "vagabundos", q temos hoje, ótimas idéias p refletir, bons livros e lindos poemas...
bjo bjo