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segunda-feira, 30 de novembro de 2009

Aquele 27 de novembro de 2009...



AC/DC nos transforma em crianças de doze anos de idade
Texto por Regis Tadeu, do Yahoo! Brasil
Fotos por Vini Cardia, meu companheiro de Highway to Hell!

Existem alguns mistérios no mundo em que vivemos que jamais terão algumas explicações frias, racionais e científicas. Um deles é o fascínio que um show do AC/DC exerce sobre a alma das pessoas que adoram rock - e até mesmo de quem nem é muito chegado ao gênero.

Fiquei pensando nisso quando voltava para casa, depois de ter assistido ao segundo momento de catarse coletiva promovida pelo grupo que presenciei em minha vida. Será o repertório? Pode ser, já que uma banda que nunca fez uma música ruim sequer sabe muito bem o que funciona ou não em cima de um palco. Ok, eles lançaram um discos mais fracos que os outros, mas mesmo o mais fraco deles - o mediano Fly on the Wall (de 1985) - é melhor do que 70% da produção total de músicas em todos os tempos.

Ou será que é o carisma dos caras, mesmo que aquilo que certos integrantes demonstram em cima do palco não possa ser chamado de "performance carismática"? Pode ser também. Pegue o batera Phil Rudd, por exemplo. Os mais desatentos sempre costumam dizer que ele é o batera que tem o emprego mais fácil do mundo, já que suas levadas de bateria seriam muito simples. Grande erro! Pegue qualquer um desses bateras fodões que andam por aí e peça para o cara tocar uma música qualquer do AC/DC com a mesma pegada e vigor que Rudd coloca na levada caixa & bumbo. Pode apostar que o resultado vai ser algo que beira o patético. Ninguém toca como Phil Rudd. A mesma coisa vale para o baixista Cliff Williams.


E tem o Malcolm Young, o irmão do Angus e - o que pouca gente sabe - o "motor" da banda. Sim, ao contrário do que todo mundo pensa, ele é o principal compositor das músicas da banda, incluindo todos aqueles riffs de guitarra espetaculares, que deveriam ser ensinados às crianças desde o berçário no hospital. É ele que arranja as canções e quem puxa as músicas durante as apresentações ao vivo. Há alguns anos, o próprio Angus disse a mim, em uma entrevista por telefone, que "o AC/DC, sem o Malcolm, seria apenas uma boa banda para animar um Bar Mitzvah".

E tem o Brian Johnson... Na hora do show, como é que a gente pode gostar de um vocalista que não canta nada, cujo timbre de voz lembra o Pato Donald com laringite e que tem a presença de palco de um caminhoneiro escocês? A resposta talvez esteja simplesmente no fato de que ele é isso tudo o que escrevi, só que exalando uma simpatia que beira o sobrenatural para um cara com mais de 60 anos de idade.

E aí a gente chega nele... Quando surgiu no show business, Angus Young já tinha aquela ridícula indumentária de "garoto que acabou de voltar da escola" que ele jamais abandonou ao longo da carreira. E todos nós sabemos o que ele vai fazer em cima do palco: tocar muito - e ele é um excepcional guitarrista! -, balançar as pernas e os pés alternadamente, mostrar uma ou duas coreografias copiadas do Chuck Berry, correr de uma lado para outro do palco gigantesco, mandar caretas para a platéia, engatar um strip tease e mostrar a sua bunda magra e branca para todos nós.

Aí, vem a pergunta que não quer calar. Se sabemos de tudo isso, por que, mesmo assim, somos levados a chorar de felicidade em um show do AC/DC? Por que cantamos todas as músicas, palavra por palavra? Por que berramos como vikings toda vez que identificamos a música que o quinteto começa a tocar e quando as mesmas canções chegam ao fim? Por que o Estádio do Morumbi estava lotado de gente com ridículos chifrinhos vermelhos piscantes? Por que vi marmanjos imensos, que encarariam facilmente uma luta contra o Mike Tyson quando este estava no auge, chorando como crianças durante "Highway to Hell", "Back in Black", "Hell Ain't a Bad Place to Be"? Por que eu mesmo, que tenho um coração da pedra na hora de assistir a um show, estava com lágrimas nos olhos em "For Those About to Rock (We Salute You)"?


É, existem alguns mistérios que jamais serão solucionados...

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