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terça-feira, 5 de maio de 2009

Onde está todo mundo?

PORTO ALEGRE, 24 DE AGOSTO DE 2007.

Sigo lendo a lendária obra de Kerouac, On the Road (...). Recém terminei a primeira parte, aquela em que Sal retorna à Nova York fatigado, à casa de sua tia, após esmolar por uma passagem de ônibus na Times Square. Vinha de uma, digamos, decepcionante estada em Los Angeles, depois de cruzar o país aos poucos, devagar, como quem despe uma mulher. Tenho um problema grave: costumo me entregar à arte que aprecio. Serve para todas elas, de filmes a livros, se não músicas. (...) Com On the Road se passa o mesmo: ando me sentindo preso em casa, com vontade de cortar o país com dez reais na carteira e uma mochila nas costas, nada mais, tomando cervejas e conversando com cada garota que encontro pelo caminho. Na história de Kerouac, logo que Sal retorna à sua cidade, olha para os lados angustiadamente procurando seus amigos, como se eles necessariamente estivessem à sua volta, ali. Pergunta-se onde está todo mundo, mas não encontra ninguém. Ninguém está ali com ele, mesmo cercado pela multidão que já se impõe nas metrópoles dos anos 50. (...) (Somos) a América de meio século atrás, a América de Kerouac: sedenta por pôr o pé na estrada, por conhecer a si própria. Mas, enquanto isso, estamos sós. Cercados por pessoas, mas solitários em nossos objetivos, em nossos planos, na nossa ausência de ideais. Onde estarão os mochileiros que descobrem o mundo com suas irresponsabilidades, com seus poucos centavos no bolso e sua simples vontade de descobrir a vida? Parece que cruzamos o país enfrentando a fome, o trabalho nas plantações de algodão, a chuva e o deserto. Chegamos em casa, mas não encontramos ninguém.

2 comentários:

Suelen Lopes disse...

Puts, colega. Em minha breve aventura pela América latina tive uma sensação similar. Me sentia extasiante, transbordando de euforia em alguns momentos, mas eu olhava em volta e me sentia uma imbecil. "Onde estarão os mochileiros que descobrem o mundo com suas irresponsabilidades, com seus poucos centavos no bolso e sua simples vontade de descobrir a vida?". Não! O que eu via eram os olhares inquisidores, olhos eletrônicos. Me olhavam com uma mistura de admiração (nossa, como ela consegue?) e desprezo (que horror, sozinha, deve ser horrível, ainda bem que estou com a galera) Eu não me importava. É, claro. Mas, ficava triste por ver as pessoas se apoiando umas nas outras como muletas, por substituírem seus sonhos por um instinto gregário medíocre, por se preocuparem mais em fazerem caras e bocas para tirar fotos e eternizarem seus sorrisos forçados em imagens espetaculares que se transformaram apenas em cenários da peça bestial que representam. Uf! Triste! Mas, bom ler teu texto e constatar que ainda existem uns vagabundos iluminados, "rodando el mundo com mucho amor en sú corazón" (isso é Wander Wildner...caso não conheça.)

Grande abraço!
Suelen

D disse...

Estimada Suelen;

Eres una de nosotros.

Gracias por la visita.